21.12.06

FELIZ NATAL!!!


Jesus, modelo de Mestre

Ele era claro, preciso, objetivo.
Seu quadro era o chão;
O giz – seu próprio dedo.
Usava como ilustração o que mais perto estava
E à vista de todos:
Como uma árvore, a natureza, uma criança.
Tinha apenas duas turmas de alunos:
Os doze e a multidão.
Sua sala de aula tinha por teto o céu
E por banco a própria relava.
Dava, às vezes, aulas particulares, como à Samaritana.
Aulas audiovisuais, enquanto caminhava,
Aulas diurnas, noturnas... como a Nicodemos.
Ensinava no mar, em terra firme,
No monte ou em casa,
No templo ou caminhando.
O esboço de suas aulas estava em sua própria mente;
Preparava-o, preparando-se em
Oração ao Pai.
Incansável MESTRE,
Seu tempo de ensinar era SEMPRE.

(Desconheço a autoria)

Sempre lamento o fato de que estabeleçamos apenas poucas datas para vivenciarmos a alegria da partilha, do encontro; apenas alguns poucos dias para expressarmos os nossos sentimentos pelas pessoas que nos são caras; apenas uns pocos instantes para abraçarmos e sermos abraçados, para permitir que sejamos o que deveríamos ser sempre, mas que os medos e couraças que criamos nos impedem de viver essa grandeza. Mas também sempre tenho a esperança de que, através de um desses momentos em que nos damos licença para sermos mais nós mesmos, alguém descubra que o tempo somos nós que fazemos, que o Cristo pode nascer dentro de nós todos os dias das nossas vidas, nos dando força para "vencer o mundo" , nos estimulando a "amarmos uns aos outros" e "fazer ao próximo tudo o que gostaríamos que ele nos fizesse". Tenho em meu coração sempre a esperança de que algumas pessoas são magicamente acordadas na noite de Natal e descobrem, de repente que podem "perdoar setenta vezes sete vezes", e que tal façanha deixará liberto o seu coração de todos os males. Essas pessoas serão os multiplicadores da Boa Nova e ajudarão a fazer de 2007 um ano realmente novo. Essas pessoas podem ser vocês que agora lêem esse post. Eu assim desejo: que todos nós possamos abrigar em nosso coração o Cristo e imprimamaos uma nova cor ao mundo tão carente de amor. Feliz Natal a todos. Um Ano Novo abençoado e muito obrigada por fazerem a minha vida mais bonita, mais rica, mais feliz com suas presenças iluminadas.





1.12.06

Renascendo...

Ninguém esperava nada...
Ela, da janela, contemplava a madrugada.
Ele dormia com os bichos e roncava...
Só roncava...
Ela sonhava...(para os outros)
Porque vivia a sua realidade plena.
Era tão pequena que cabia nas estrelas
E tão grande que enfeitava a madrugada.
Todos dormiam
E ela acordava a cada minuto.
Construía a sua manta protetora,
Acalentava o seu sonho;
Banhava os pés em água de alfazema,
e sorria livremente com os anjos.
Lentamente o sol nascia.
O dia se mostrava aos poucos
com sua tímida e profunda beleza.
O cheiro da manhã envolvia os seus sentidos
e o seu corpo tremia inteiro.
Os primeiros passos eram dados ao retorno
de si mesma:
Compôs uma bola grande e cor de rosa
com um cheiro de flores do campo;
Compôs uma canção doce e suave;
Compôs um olhar puro e inocente...
Deitou-se nessa bola
banhada pela luz do dia,
E, enquanto todos iam despertando,
Junto com os anjos
Ela dormia.

24.11.06

Em carne viva

Eu sou um cavalo qualquer
Um cavalo selvagem
feito pra seguir viagem,
mas não quer.
Sou uma mulher qualquer
De um homem qualquer
De um anjo que não me quer
Tão mundana
Nem tão pura
Nem tão sentimental
nem tão dura.
Eu não sou nada disso
do acima escrito.
Sou uma menina
Perdida numa vida de mulher;
Sou uma princesa
Perdida em meu castelo
Num século em que os príncipes
abandonaram o reino
e foram em busca de camponesas
Para terem a certeza
de que não ficariam presos em cadeiras pomposas
Em mesas bem postas
Em prato e talher.
Sou uma flor,
Uma folha,
Um fruto...
Sou um bicho dengoso
Que escorrega lá dentro
Com tanto sofrimento
Em se mostrar como é.
Eu sou agora uma menina,
Uma mulher pequenina
Com um coração apertado
Num peito carente e abandonado.
Sou uma grande menina
Que olha a vida e chora
Porque quer ficar e ir embora
Sem nem mesmo saber pra onde.
Sou uma bruxa enraivecida
Jogando pragas na vida
Salvando-me das feridas
Com meus preparados de amor.
Juro, não sei onde vou,
Não sei como eu sou.
Morro de amor, agora
e não sei por quem.
Não tenho ninguém para tocar as mãos,
Pra apertar contra o corpo
que morre perdido e só.
Sou uma mulher violentamente apaixonada pelo nada
e o nada é um homem bonito
perdido na imensidão do céu.
Seus olhos brilham azuis lá de cima
Mas quando ele me encara é a mais
profunda escuridão.
Eu sou filha de Deus,
da mãe que não me pariu
e do pai que me disse adeus.
Esse chão quase frio em que me encontro
É meu sem que eu nunca o tenha conseguido.
Por favor, mundo, pare tudo!
Alguém me escute:
eu preciso de abrigo e de limites!
Não consigo parar de escrever
e de chorar por dentro.
Está tudo escuro
O meu amor é vento.
A noite é um homem bonito
que ao me abraçar eu grito de medo!
Tenho medo de morrer por dentro
Tenho medo de não crer em nada
Tenho medo da madrugada.
Por favor, mundo, me escute.
O sapo se foi para a vida
E a princesa escondida procura
pelo alfinete na sua cabeça.
Por favor, mundo...
O espelho se quebrou com a minha falsa imagem.
Não existe mais miragem;
Há um caminho inteiro pra viagem,
Mas eu não quero ir agora.
Sou um gato procurando a almofada pela sala,
E alguém a jogou pela janela do terceiro andar.
Sou uma mulher que quer chorar
toda a água da chuva que inundou seu mundo.
Sou a criança que quer colo e tem medo do escuro;
sou a princesa perdida que quer pular do terceiro andar
atrás do gato que pulou pra buscar a almofada da sala...
...que ficou vazia.
Gritos, gritos, gritos!
Dentro do meu peito:gritos!
Nada é meu na sala,
no quarto, na cozinha...
A casa está vazia de mim,
pobre princesinha sem o seu castelo, sem o seu sapinho...
Não quero mais enlouquecer.
Quero viver essa lucidez doída
que me torna a louca do terceiro andar, do terceiro mundo, do terceiro tudo da vida.
A vida é minha, porra!
Agora a vida é minha!
Eu estou sozinha na vida, mas ela é minha!
E eu odeio esse príncipe verde, esse sapo urbano, esse castelo do século vinte!
Tenho quase trinta por mero engano
Sou uma menina que mudou de planos
pra sobreviver.
Estou aos pedaços,
E me compreendendo assim, me refaço.
Mas morro tanto, tanto, tanto
Até apodrecer e servir de alimento ao solo
Pra nascer de novo sem ser mais tão pequena.
Abro os braços, mas não abraço o mundo;
Agasalho-me somente e me desespero
por não ter por perto outros braços
que não os meus.
Meu Deus,como eu sofro!
Como sou feliz por me despir de mim
assim tão sem sentido.
Consigo me lançar no espaço;
Consigo enlouquecer e abrir os braços para o meu sorriso
que ainda não chegou.
Consigo me desintegrar e me recompor no céu que eu invento,
e, junto com anjos, entoar cânticos de liberdade.
Já é tarde e é tudo verdade o que eu escrevo.
Não penso nada;
Não poetizo nada, porque não posso.
A dor sai me rasgando.
Hora sou feliz, hora me enterro.
Minha dor tem mil faces e roda em torno de mim
me entontecendo.
Nada coordeno, e possuo o domínio
desse caos que me liberta e aprisiona.
Senhor do Universo: Eu existo!
Não sou o Cristo, mas a minha cruz me pesa,
me enverga, me desperta.
Vou embora. Já não me sirvo.
Fico com o que ficou:
tão pequena no chão da minha casa,
vendo luzes e sombras,
tendo coragem e medo,
sonhando e sofrendo...
Minha dor se acalma.
As lágrimas cessam.

Fátima Guedes canta:
"... agora esse mundo é meu."

Escrito em Janeiro de 1994

17.11.06

Voz da Alma


Às vezes eu chego a mim com tanta força que quase me rasgo o peito. Quando a voz silenciosa me alcança ela lança flechas até me atingir, me derrubar pra passar por cima de mim e falar. Eu sou o meu maior obstáculo. E a voz sabe. Sabe que precisa usar de uma força descomunal para lhe dar vez, senão ela perde todo o seu discurso, que é o sentido da vida, a razão de estar aqui. Sou de uma crueldade sem fim quando permito que essa densidade impeça a sutileza de expressar-se. Quando sucumbo, enfim, sinto depois um alívio. A voz diz o que quer e voa. Vai buscar mais elementos pra cantar a vida. Sem ela eu nada sou. O automatimo e a rotina tomariam conta de mim até me transformar num robô disfarçado de gente. Ontem fui cruel com a voz e perdi a poesia de um momento único. Ela se vinga de mim não deixando pistas, resquícios dos seus versos. Essa voz é o meu guia, o meu bálsamo, o meu porquê de suportar-me tão comum em momentos destituídos de qualquer encantamento. Ela é o protesto e o encanto. É quem destrói bravamente o mal feito, e, cheia de esperança vai recolocando as pedras da minha caótica construção.

13.11.06

Arte Íntima

Debrucei-me na janela da vida
pra contemplar o sol...
Sinto-me só, mas não sem saídas.
Sinto-me triste, mas não perdida.
Jamais perderei o rumo novamente
quando a tempestade invadir a minha alma.
Entretanto, tenho lágrimas contidas
Dores que me apertam o peito
De um jeito que parece que não suportarei.
Olho-me no espelho
pra dizer-me que já sei que tudo passa
Que o que não é essência sempre vai
Ficando apenas luz e paz.
Mas agora sinto os meus braços curtos e fracos
Para dar-me o abraço que preciso.
Algumas portas que fechei
lançaram-me no meu próprio abismo
Mas já sei que novamente as abrirei
para que entrem risos e sonhos.
Debrucei-me na janela da vida
pra buscar o sol
E ele se escondeu.
Pegarei minhas tintas e pincéis
E pintarei o meu sol.
Nunca mais ficarei sem luz.

7.11.06

Um abraço...!


Um laço,
um descanso pro cansaço,
um afago envolvente!
Braços quentes e macios,
ombros mornos,
silêncio eloquente...
Um abraço...!
Sem perguntas,
sem respostas,
sem receitas.
Um aconchego
De um colo amigo.
Isso é tudo que eu preciso
!

27.10.06

A mulher que espera

Do lado de fora, dentro de mim, espera-me uma mulher.
Roupas coloridas nas mãos, eu sei o que ela quer...
Contempla-me impaciente e ansiosa
Pela demora que levo pra empreender novos rumos.
Olho pra ela e sumo.
Escondo-me atrás dos panos rotos, das cortinas desbotadas da minha alma,
Dos velhos portões da minha velha casa.
A mulher me olha e chora, mas não vai embora;
Recolhe os objetos espalhados nas tentativas de fuga
Põe no cesto as roupas sujas
Joga fora o lixo.
Dou um sorriso a essa mulher tão firme
Que resiste às tempestades de um coração confuso
Que reconstrói os sonhos destroçados pela realidade acreditada.
Eu nada sou sem ela.
Não vou a lugar algum sem tê-la em minha companhia.

Do lado de dentro de mim, me espreito.
Observo o vai e vem dos meus passos indecisos.
A mulher os transformam em dança e eu prossigo a caminhada.
Emito sons dissonantes e doridos.
Ela os arruma em partituras e me faz cantar.
Debato-me em infinitas emoções
E ela me joga ao mar e me lava a alma.
Olho para ela e faço um sinal:
-Calma! Eu já estou saindo.
São os últimos momentos dessa morte.
Agonizo aos despedir-me desses velhos hábitos e jogos inúteis.
- Calma!- eu repito – Já estou despindo-me da velha roupa, do velho rosto sofrido,
do excesso de juízo e da falta de amor por mim mesma.

A mulher me olha; já não chora.
Compreende a demora e não mais me apressa.
Para que eu possa levar apenas o que me serve
E, na pressa, não confunda ouro com lixo.
Olho pra ela e sei que sou eu que ali estou
Sou eu a me esperar com novas roupas e sonhos.
Vejo nos seus olhos as paisagens que desejo ver.
Sou eu que me espero
Com a alma cheia de amor pra me acolher
E uma louca vontade de ver o sol nascer.

18.10.06

Pessoas que nos traduzem III - Leo Buscaglia

Houve um momento da minha vida que andei de mãos dadas com ele. A franqueza e simplicidade das suas palavras me faziam senti-lo bem perto de mim. A minha humanidade era retratada nas aventuras que esse doce mestre me narrava na sua linda caminhada pela vida ensinando nada mais nada menos do que o Amor.

Sua coragem em levar ao meio acadêmico esse "artigo dspensável" e abrir as portas do seu coração para que outros pudessem encontrar as suas chaves internas me fez considerá-lo um homem especial, um Mestre de verdade. Leo Buscaglia toca profundamente o coração:

"Você verá que será maravilhoso o dia em que se der conta de que é singular no mundo inteiro.Não há nada que seja acidente. Você é uma combinação especial, com um propósito, e não permita que lhe digam que não, mesmo que lhe afirmem que o propósito é uma ilusão. (Viva uma ilusão, se for preciso). Você é essa combinação, para poder fazer o que é essencial que você faça. Nunca pense que não tem nada a contribuir. O mundo é uma incrível tapeçaria não realizada e só você pode preencher aquele pequeno espaço que é seu."

"Quando danço no meio das folhas, coisa que faço muitas vezes, vejo que outras pessoas também tomam coragem para ir dançar nas folhas delas. E isso é bom. Se eu puder ensinar alguém a dançar nas folhas, correrei o risco de ser chamado louco. Gosto de ser considerado louco porque, como já disse, quando a gente é considerada louca isso nos dá uma grande margem de comportamento. A gente pode fazer quase tudo e todos dizem: "Ah, é aquele louco do Buscaglia, dançando nas folhas." E eu estou-me divertindo muito e todos os ajuizados estão morrendo de tédio."

"Hoje não pode mais cair uma folha sem que isso nos afete a todos. Não há lugar onde nos possamos esconder. Todos nós afetamos uns aos outros. É uma grande vibração maciça, espalhando-se em todos os sentidos. É bom começarmos a contruir uma dessas pontes, senão as fendas serão tão profundas que nunca conseguiremos transpor.

"Retirado do Livro: Vivendo, Amando e Aprendendo.

12.10.06

Luz!


Do abismo infindável surge a ponte. Assim...como se fosse do nada. Mas é do tudo que há em mim e desconheço. Ainda não conheço toda a geografia que guardo. Do sonho ao despertar são ruas e ruas sem fim; são países diferentes de idiomas distintos que me obrigam a aprender-me incessantemente.

Hoje caminho por uma rua (de mim mesma) calma, segura e iluminada. depois de ter atravessado uma noite escura que não apresentava saídas, onde tudo era escuridão sem lua e estrelas. Coração aos saltos, eu tateava o nada em busca de um milagre. O milagre estava em mim. Apertei o interruptor e a luz se acendeu. Eu saí da noite para a luz e, às vezes, não acesso como isso acontece. Qual o mecanismo que me faz emergir das profundezas da dor para a superfície da esperança? Fico querendo me apropriar dessa "técnica" pra sofrer menos de uma próxima vez. Entretanto, cada vez que isso acontece não é igual à anterior e tenho que me confrontar com o que de mim me é desconhecido; o desconhecido que me tira do controle por não me deixar pistas.

É assim que vou me perseguindo, ou me seguindo, me descobrindo, me caçando. Às vezes gosto; outras não.

Não existem mapas para a alma humana. Ou é um mapa em movimento constante, acrescentando incessantemente estradas, atalhos, desvios...e encontros e desencontros. Sou o meu livro e o meu leitor. Sou a autora dessa história criada por Deus e por mim. Mas Deus não me conta os capítulos que escreve. Ou me conta e eu não entendo! Não sei. Vai ver que a vida é pautada nessa tradução dessa linguagem única e divina. Vou dormir com o sol na cabeça, e nuvens, e céu...Luz, enfim!

2.10.06

Pessoas que nos traduzem II - Khalil Gibran

Menina ainda, tímida e com alma borbulhando de inquietações, busquei nos livros os aliados insuperáveis para acalmar a estranheza que sentia diante das coisas do mundo. Eis que um dia, não lembro-me como, me chega às mãos aquele que responderia ao vendaval de questões que assolavam o meu ser, não com as respostas prontas, mas com reflexões que serviam de pistas para me levar ao lugar onde mais desejava e desejo até hoje: a essência de mim mesma.

Khalil Gibran Khalil. Deus! Alguém no mundo consegue dizer com as palavras certas aqueles sentimentos indizíveis que atormentavam a minha jovem (assim eu pensava!) alma . Não estou sozinha! Gibran foi um fio de ouro que me despertou para o sentimento de unidade; foi o fio que teceu uma teia profunda que me fez perceber que estranhos somos todos nós quando não nos conhecemos e , consequentemente, não reconhecemos, o quanto somos iguais. Ficava a imaginá-lo e a escutar a sua voz sussurrando aos meus ouvidos:

“Não medi minha saudade com a marcha das estrelas, nem lhe auscultei a profundeza. Porque o amor, quando sente saudade do lar, escapa às medidas do tempo e às auscultações do tempo. Há momentos que equivalem a séculos e separação. Entretanto, a separação não passa de uma exaustão da mente. Talvez não nos tenhamos separado.”


“Muitas vezes damos à Vida nomes amargos, mas somente quando nós próprios estamos amargos e sombrios. E consideramo-la vazia e inútil, mas somente quando nossa alma anda vagueando por lugares desolados, e o nosso coração está embriagado pela excessiva preocupação consigo mesmo.”


“...a Vida sorri ao dia; e ela está livre, mesmo quando arrastamos as nossas cadeias.”
( Do livro “O Jardim do Profeta”)

26.9.06

Pessoas que nos traduzem- Elisa Lucinda


Existem pessoas que nasceram com uma habilidade fantástica para manejar as palavras, de uma forma que, na busca de traduzirem-se a si mesmas, atingem em cheio a alma da gente. Afinal, somos todos uma linda unidade, ainda que pensemos que não. Lá no nosso cofre-coração guardamos os mesmos tesouros, as mesmas vontades tão humanas e divinas de dar e receber amor , de ter um colo bom pra recostar quando achamos que o mundo não nos reconheceu como queríamos, e também a doce vontade de ter um par para bailar conosco as nossas alegrias.
Elisa Lucinda é assim: uma tradutora do que vai dentro da gente, e que, muitas vezes, nos faltam as palavras pra dizer daquela forma tão especial quanto gostaríamos. Senti vontade de explorar um pouco esse universo dos que me traduzem e a escolhi para abrir caminho. Com a palavra Elisa Lucinda:
MEMÓRIA DE UM SILÊNCIO ELOQÜENTE
Para ti
sempre tive um infinito
estoque de perdão.
Só para ti
perdoei mais que suportava,
mais do que pude.
Minha cerca-limite era sem estatuto,
não tinha um não delimitando nada.
Fui perdoando assim de manada
e muitos erros desfilaram me ferindo,
nos interferindo silenciosos,
sem ninguém denunciar.

Perdoa a dor que te causei,
é que você estava há tempos me machucando
e eu não gritei.
Do livro: A fúria da beleza

21.9.06

JANELAS (aos amigos virtuais com carinho)

Quantas janelas se abriram,
e quantos olhos vejo nelas!
Tantas estradas trilhadas,
quanta tinta, quanta tela!
São paisagens variadas,
são sonhos de toda cor, mas há algo que não muda:
tudo embebido no amor.
Enxergo almas vibrantes,
envolvidas em palavras nuas,
percebo caminhos, desvios
que cruzam minha vida com a tua,
e sinto o quanto é bonito
a gente expressar o que sente
e ver de outras tantas formas
o eco do sonho da gente.

15.9.06

Interseção


Graças a ti cheguei aqui aonde estou.
Olhei-te de perto e eis que me enxergo nos teus olhos vesgos,
na tua alma torta de paixões perdidas,
de amores achados em meio a armadilhas.
Somos todos só um
e vivemos a exaltar as nossas diferenças.
E insistimos em dar valor às nossas doenças sociais.
Mas só sou porque tu és.
És o que sou e nem sabes.
Sou o que és e nem sei.
Agora que encontro os teus reflexos em meus espelhos,
admito entre surpresa e consolada,
que a humanidade nos une além da morte.
Graças a mim te reconheces único.
Graças a todos nós que levantamos a bandeira da individualidade.
Frágil individualidade que pra nada serve quando a saudade invade e nos quebra em mil pedaços de escuridão.
Desde que me enxerguei nos cacos escuros dos teus espelhos meus
vejo pontes que atravessam as mais duras barreiras dos nossos discursos preparados pra o ataque.
Quando batem os atabaques dançamos juntos as nossas alegrias mais íntimas
por termos sobrevivido às nossas guerras diárias.
E a noite, quando os nossos corpos jogam-se na cama, o nosso suspiro de alívio é ouvido no universo inteiro.
Todos suspiramos juntos o mesmo suspiro e a Terra se enche de novas forças.
Ao amanhecer várias pernas caminham em nossas pernas.
O meu andar impulsiona o teu.
O teu andar inspira os meus caminhos.
Graças a ti meus olhos sabem que não choram sozinhos.
A minha dor é salgada à minha língua, tanto quanto à tua.
Mas quando a mais profunda alegria brota no meu peito, a minha liberdade te liberta e o sorriso desponta em tua face sem que saibas o porquê.
Descobri que o fio que nos une é eterno, infinito.
Que gritamos o mesmo grito de socorro ao cosmos.
Descobri que somos parte de um só coração
E que a humanidade é a nossa interseção.

10.9.06

Tome, tome, tome!

Por excesso de bagagem, causando problemas de coluna e desvio de estrada, estou devolvendo umas tralhas que, por negligência, por paciência, impotência, insuficiência de consciência e outras congruências, andei pegando ao longo do caminho. Estou devolvendo o olhar triste, o coração pesado, o julgamento, os sonhos errados que se transformaram em pesadelos. Não quero também a bobice de aceitar tudo pra ser boazinha, a cara de santinha, as falas comedidas, as destrambelhadas... O que é demais é sobra, já dizia a minha mãe. Não quero mais as sobras, os restos, as doenças, os remédios, o tédio e o "tudo certo como dois e dois são cinco". Devolvo os rótulos, as definições que me amarram, os "afetos" que engessam, os melindres, os sutis venenos das conversas cotidianas. Estou entregando os produtos falsificados, os passados da validade, os de qualidade duvidável. Autenticidade é o antídoto pra tanta intoxicação acumulada na alma por todo esse tempo.

Por perceber que a vida é mais fácil pra quem carrega bagagens leves, pra quem leva o essencial, o que realmente é útil, estou me desfazendo de medos, preconceitos, verdadezinha metida a besta, frases feitas, alma desfeita, competições ferinas, neosaldinas e todas as "inas" para dores de cabeça. Não quero mais tanta cabeça, preciso de espaço para o coração. Estou tirando o excesso de razão, de arrogância, de complicação, pra ver se consigo ir mais longe, se consigo cansar menos e perder menos tempo pra arrumar bagulhos, pra trocar sapatos, pra afastar os ratos e baratas dos meus trapos.

Estou entregando o apego ao passageiro pra dar lugar ao que é eterno; tudo o que é áspero para viver o que é terno, tudo o que é amargo pra provar a doçura e a alegria de estar viva, de estar construindo-me sem tantos pesos, sem condições pré-estabelecidas. Deixo espaço para os imprevistos, o improvável, o fora de hora...Redireciono para todas as direções, reciclo em todas as dimensões e o meio ambiente agradece pela minha humilde contribuição.

6.9.06

A nossa criança

Somos o somatório das nossas várias experiências, dos vários tempos vividos, das dores e alegrias sentidas ao longo do caminho. Em alguns momentos fomos submetidos a uma emoção tão forte que nos fez chorar, ainda que só por dentro. E porque temos que seguir, tocamos a vida sem que deixemos evidente aquela dor. Entretanto ela existe. Aquele "eu" machucado está lá num outro tempo paralelo, precisando de ajuda, de carinho, de um resgate pra que possamos caminhar libertos das amarras de um sentimento que nos limitou em muitos aspectos da nossa vida, sem que tivéssemos consciência disso.

Em muitos casos essas vivências se deram na infância. Nessa fase em que nos construímos como pessoas, em que construímos os nossos afetos, valores, conceitos...Essa criança sem defesa ficou lá, aprisionada num dado momento, e esse adulto que hoje somos, carrega o peso de algo não resolvido e não se dá conta. Acredito que precisamos nos permitir estar em contato com a nossa criança, para que possamos, mesmo sem saber, cuidar das nossas feridas.

Brincar é a saída. Buscar atividades motoras e artísticas que provocam prazer, que produzem endorfina, que abrem espaços dentro e fora de nós. É essa criança a responsável pelo nosso humor, por nossa vontade de viver, de crescer, de alcançar as estrelas, mesmo que sejam as do nosso céu particular.

Salvemos as nossas crianças internas, para que possamos salvar as outras crianças que estão sendo obrigadas a crescer antes da hora para atender a uma sociedade doente; para atender ao nosso pedido de socorro por sermos incompetentes para lidar com elas. A nossa parte criança é a nossa parte saudável, a parte que escolhe ser feliz, apesar de tudo, mas para isso é preciso cuidar dos nossos "dodóis". Vamos lá naquele lugar onde deixamos a nossa criança machucada. Vamos cuidar dela e dizer que tudo já passou, que estamos em condições de apoiá-la para que possa seguir em paz. A nossa criança será o nosso mestre e nos abrirá as portas da alegria e da paz.

2.9.06

Sobre a alegria

Lendo uma história do livro Histórias para Aquecer o Coração dos Pais, de Jack Canfield, um ditado antigo me veio à mente: "A gente só dá valor à água depois que a fonte seca". Pensei: será que é mesmo assim? Me respondi: é assim. Aprendemos na vida através da vivência de opostos: som e silêncio, dia e noite, tristeza e alegria... É sobre a alegria que quero falar.
Só quando senti uma tristeza profunda, quando me vi privada da alegria é que pude perceber essencialmente o seu valor, a sua importância para a vida como um todo. A alegria é um preventivo para que não adoeçamos a alma e, consequentemente, o nosso corpo. E, caso isso seja inevitável, é o remédio para a restauração, um revitalizador natural. A alegria é muito mais importante que o dinheiro, pois ela cria situações de abundância que nos mantém sempre abastecidos em todos os sentidos.
Foi a alegria, mais precisamente a falta dela, que me levou a promover mudanças profundas e significativas em minha vida. Ela foi o parâmetro para que eu soubesse se o que estava fazendo era certo ou não. O certo é o que nos faz feliz, entendendo como felicidade ,não um estado de ausência de conflitos, mas um estado de capacidade de promover o equilíbrio nas situações mais difíceis, de readaptação, tendo como referência a saúde, a plenitude, a alegria, entre outras coisas, experimentadas nas fases de conforto interno.
É a alegria responsável pelo equilíbrio diante das injustiças e desigualdades. As pessoas que a cultivam reinventam a vida, revertem situações, apesar de... Não está ligada a nível sócio- econômico, cultura, satisfação plena das demandas emocionais, realização profissional e tantos outros itens, apesar de facilitar o caminho pra chegar a todos eles.
Alegria é uma questão de escolha pela afinação com o instrumento divino. Uma escolha pela vida, pelo projeto original da criação, onde está impressa a felicidade e perfeição humana. Somos frutos de um ato de criação alegre, que explodiu e expandiu em cores, diversidade, fertilidade. Temos, dentro do nosso ser, a semente luminosa da alegria e com ela podemos negar qualquer situação que nos afaste da nossa origem de seres divinos, dotados de infinita capacidade, de infinita força, perfeitos em essência, luminosos, plenos...alegres!

27.8.06

ALMA DE ARTISTA

Vi o rosto de um homem cheio de ternura. Seus olhos brilhavam como os de uma criança descobrindo um novo brinquedo. Seu sorriso era aberto, franco, verdadeiro, e ele encantava corações de todas as idades com as suas palavras e sons. Pensei: é isso que é um artista! Uma criança eterna, alguém que não se conforma com os conformes, com a estagnação do pensamento, dos sentimentos. O artista não ignora a beleza das coisas, não cansa o olhar, não o vicia e continua a manter aquele mesmo interesse da criança quando vai explorando, descobrindo a vida. Seu brinquedo é a sua arte, onde ele conta e reconta o descoberto, onde ele impregna a realidade de traduções suas que coincidem com várias realidades internas de outras tantas pessoas, e aí elas se sentem como se tivessem lavado a alma: alguém disse aquilo que me habitava sem que eu conseguisse traduzir! Era assim o que eu percebia nos seus olhos, no seu riso, no seu corpo.
O artista é um tradutor da vida, das suas infinitas possibilidades. Quando, por alguma razão, não cumpre com o seu destino uma tristeza se abate sobre ele e uma voz interna lhe cobra insistentemente por isso. É assim que eu me sinto. Acho que é por isso que adoeço mais do que eu gostaria, e entristeço quando vejo-me impedida de expressar-me como deveria. Estou buscando uma ponte entre essa vida que tenho e o que realmente quero fazer.
Esse brilho no olhar desse moço é o retrato de uma alma que se segue, se escuta e se realiza. Quero aprender a me seguir, a me escutar e a me realizar.

26.8.06

Promessa Íntima

Prometo ser eu mesma
E isso é tudo.
E sendo assim tão pouco
sou tão grande
Por ser menos do que queres
E ser o bastante
Pra tornar verdadeiro cada instante.
Poderia tanto prometer
E não ser nada.
E sendo uma esperança
de um improvável tudo
Nada seria na provável renúncia
do que me defino.
E desse tanto que sonhas e desejas
Eu de mim só seria uma tênue sombra
Perdida numa promessa da luz obscurecida
Pela ilusão de tudo ser
Menos eu mesma.

22.8.06

Sonhos...


O silêncio me invadiu. Pensamentos e sentimentos passam esvoaçantes e rápidos sem que eu consiga pegá-los. Tudo voa, evade, some... É o vento da mudança. Quero dançar com ele. Quero voar entregue aos movimentos da vida, sem me preocupar com o minuto seguinte. Depois que descobri que um minuto contém todos os tempos, sei que posso viver dentro dele, uma eternidade de sonhos. Sonhar...Não é um privilégio dos ingênuos e românticos. Sonhar é permitir-se antever o que se quer transformar em vida. Engana-se quem acha que perde tempo ao sonhar. Quem não sonha, não cria, não transforma, não abre portas e janelas. Quem não sonha não enxerga além do próprio nariz, quem não sonha está por um triz... Se todas as portas concretas parecem estar fechadas na vida, o sonho permitirá que se enxergue outras saídas. As saídas nascem de uma porta secreta que só pode ser acessada através dos sonhos. Portanto, é necessário disseminar a vontade de sonhar aonde quer que estejamos, pois ela abrirá espaços pra o que já está apertado demais de suportar, revelará sentimentos, invenções jamais pensadas, amores verdadeiros, poesias, melodias...
O silêncio me invadiu de sonhos e eu agradeço ao Universo por tê-los tão perto nessa hora. Sei que há muitos corações áridos e eu tenho o meu tão irrigado! Penso que quem não sonha vive se batendo em pedras, se machucando na ilusão de que está vivendo da melhor maneira e se protegendo de dores. Não é verdade. A vida só prospera com sonhos, os espaços só se ampliam com sonhos, a consciência só se eleva com sonhos. Os ventos da mudança me contaram esses segredos e eu os espalho para que todos nós possamos sonhar juntos por um mundo melhor.

18.8.06

EU VOU PRA CHUVA!


Não, não e não! Recuso-me a pensar a felicidade como navios no porto, portas devidamente fechadas para proteger-me de ladrões, vidros suspensos, apartamentos imensos, geladeiras e armários cheios de...nada!
Se o preço é correr o risco de perder o norte, confiar na sorte, se expor à morte, às chuvas, ao relento e à fome, eu corro esse risco. Viver só cabe num espaço infinito, sem condições e abrigos imaginários que roubam a alma em troca de...segurança!!!
Segurança de quê? A nossa alma sabe que não viemos aqui para buscarmos a segurança das paredes, do dinheiro, da comida...A nossa fome é outra! O buraco é mais em cima: é no coração!
Precisamos aprender a amar, primeiro a nós mesmos, depois aos outros. A ordem invertida altera o produto. Aí a gente se confunde e sai se enchendo de "seguranças", e se amarra de tal forma que não consegue caminhar, muito menos dançar com a vida. Fica se dizendo, e aos outros, que precisa disso e daquilo pra ser feliz. Nos colocamos como bichinhos sendo alimentados pelo dono, abanando o rabinho de satisfação por encher a barriga(com a dita segurança) a custa de uma alma vazia.
Não, não e não!Não negocio a minha vida, não negocio a minha alma, não negocio com os meus sentimentos! E que faltem as paredes, e que falte o teto, e que falte os abrigos, a comida...!
Não pode faltar alegria, partilha, amor! Se o preço da segurança for a vida, como eu a concebo... Porra! Eu vou pra chuva!

15.8.06

Deixar ir...

A natureza é mestra em nos ensinar que pra tudo existe um ciclo a ser cumprido. Em todos eles nascimento e morte caminham lado a lado como velhos amigos que se amparam para que possam dar o passo seguinte. Onde o começo? Onde o fim? Tudo tão perto que choro e riso se confundem no momento em que a escuridão se despede e nasce um novo dia. Como nascer sem antes morrer?
Todas as estações são marcadas por perdas e ganhos. É o preço da evolução, da transmutação de energias, do nascer de uma nova vida. Cada despedida abre uma nova porta de passagem para o que chegará. E o que chegará? É preciso deixar sair pra poder enxergar. Entretanto, somos aprendizes preguiçosos pra entender que "é preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso chuva para florir..." É preciso deixar ir...soltar-se, desapegar-se, permitir "morrer pra germinar; plantar n'algum lugar, rescussitar do chão..."
Aceitar a morte é também dizer sim à vida. Se assim não for há de se carregar um peso morto nas costas, suportar tristezas e ilusões que atrasam a caminhada.
O vento e as tempestades fazem parte da natureza tanto quanto o sol. É preciso deixar ir, mesmo com dor. Aceitar que um ciclo se fechou, e que cada estação tem seu aprendizado, e cada uma delas tem sua beleza e sua função.
Estou deixando ir com a certeza de que a primavera está próxima e em breve o meu coração irá florir.

13.8.06

SOBRE MEU PAI...

Meu pai era um poeta, um homem que tinha luz nas palavras. Quando falava, encantava. Era um cantor com uma voz que tocava a nossa alma. Era um protetor, um cuidador raro, de percepção aguçada pra ver nos olhos de qualquer um de nós algum desconforto, alguma nuvem de tristeza.
Era um provedor, principalmente de afeto. Era um sonhador, mas caminhava com firmeza no chão pra buscar o pão de cada dia. Não tem fim pra mim o rol da suas qualidades. Deixou-me a herança da poesia, da música, do encanto e da esperança. Deixou-me a persistência na bondade, na honestidade e no desejo de querer saber sempre mais de tudo, principalmente da alma humana. Acho que ele continua sendo tudo isso com muito mais intensidade onde ele está hoje. Sua herança é o meu norte, é a minha sorte, é o meu alimento. Minha saudade não tem fim, apesar de ter certeza de que,de onde ele estiver, olha por mim. Eu trago sempre os seus olhos nos meus pra enxergar a vida com a mesma riqueza com que ele enxergou. Segue uma das suas poesias como uma singela homenagem:

...É NADA

Rasga o véu
desnuda a alma,
pula fora da clausura!
Mergulha em ti,
que no fundo
encontrarás
o teu mundo...
te encontrarás,
criatura!
Depois,
volta à superfície,
e verás quanta imundície
tu confundiste com ouro...
rasga o céu,
liberta a alma.
deixa-a livre,
solta, pura,
que, voando a grande altura,
devassará o universo
e mostrará o reverso
desse teu falso tesouro...
Aí, então, tu verás
- na imersão,
na escalada-
que no cosmo, na amplidão,
só essência,
o resto...é nada!

Cristovão Souza de Carvalho

10.8.06

Gratidão (dedicado a Cris)


Quando decidimos mudar nunca estamos sozinhos. Muitos aliados nos fortalece o propósito da mudança nos dando instrumentos, apontando caminhos e criando novos espaços pra que a nossa alma se expresse. A vida é tecida por mãos infinitas, algumas visíveis, outras sutis, mas que juntas formam uma teia colorida de sentidos essenciais para o prosseguir constante.
Nesse momento eu quero agradecer a um grande aliado em especial que criou essa nova casa pra essa alma buscadora, inquieta e mutante. Devo a ele essa suavidade coerente com um novo sentimento: uma loba que avança mais delicadamente dentro e fora de si, experimentando as várias formas de dizer-se. Uma loba que momentaneamente sente-se saciada em seus anseios por estar sendo correspondida pela vida em sua procura por alimentos. Barriguinha cheia, coração feliz pela nova casa, só tenho a dizer a um lobinho muito criativo que amo demais: muito obrigada!

8.8.06

União do Vegetal

Andei falando com minha alma de um jeito muito especial. Já havia experimentado antes essa forma de comunicação e. como percebi a eficiência da coisa, necessitei repetir o processo nesse atual momento. O principal motivo foi o fato de estar excessivamente "Ou isto ou aquilo". Não aguentava mais estar perdida em , no mínimo, duas opções a respeito de coisas que exigem uma definição, com o risco de, se assim não for, nos fazer pirar de vez, surtar. Soou o alarme e eu decidi: preciso da ajuda dos vegetais pra saber realmente o que a minha alma necessita pra ficar em paz. O mariri e a chacrona me despertam a anlogia das parcerias para que as coisas sejam geradas, sejam fecundas e fertilizem a terra de diversidades. Juntos eles formam a ayahuasca, o chá que possibilita o contato com aquilo que em você precisa ser visto, mas que a couraça construída não permite ver. Foi fantástica a viagem. Sensações que ficam bastante empobrecidas quando verbalizadas, mas que tentarei transmitir, ainda assim. Cada um vive algo único, que faz sentido apenas pra si mesmo, pra seu processo de vida, portanto a leitura é extremamente particular. Pra mim o mais interesante é ouvir as respostas que busco em imagens fantasticamente elucidativas, junto com explicações de guias que escutam os meus pensamentos.
Fiz uma viagem através dos elementos da natureza numa velocidade espantosa e pude perceber conexões de tudo com tudo. Entrei num templo sagrado que guardava histórias de um passado importante para mim e conheci uma escola no mundo sutil que fortalece a quem trabalha no campo da educação. Rostos alegres me recebiam e esclareciam questões que eu trazia no coração. Vi grupos de ajuda que bailavam em movimentos de tamanha beleza e expressão e se definiam como auxiliares do meu processo existencial. Mergulhei em mares ricos de seres encantados, vooei sem medo de cair e pude ouvir que, em muitos aspectos da minha vida onde o temor ainda aparece, eu não preciso mais temer, já posso voar. Outras perguntas mais íntimas foram respondidas e questões foram esclarecidas. Um espetáculo visual de cores e formas e sons, me mostraram o quanto o universo é rico e o quanto podemos criar de beleza pra enfeitar o mundo. Isso é o que consigo dizer, mas podem ter certeza, é muito pouco, principalmente pra traduzir a transformação que se passa interiormente. Voltei com olhos mais atentos, ouvidos mais sensíveis e mais perto da minha alma. Que Deus me ajude a permanecer nessa leveza.

5.8.06

Lilás!

Lilás! Se se cansou de se arrastar como uma eterna lagarta, se já não cabe mais velhos conceitos...Lilás! Pra transformar o acúmulo, quando já chegou ao cúmulo de encurvar as costas, quando tudo tá muito nhem nhem nhem...Lilás! A receita é simples e diferente para cada um, mas o efeito é uma varredura no que entulha a vida, no que aprisiona com medidas menores do que a alma. Lilás, pra mudar com calma, com suavidade e para sempre, mesmo que o sempre seja daqui a dois minutos. Lilás pra contatar com os anjos, com os sonhos e projetos incompletos.Lilás pra acabar com a coleção de amores impossíveis e possibilitar um novo e grande amor. Lilás pra que tem pavor do tédio, do remedinho repetido em doses exatas, na hora certa; pra quem teme banhos de chuva, desmanchar cabelos, manchar a maquiagem. Lilás pra quem quer seguir viagem em busca de si mesmo, pra quem quer encarar o espelho e , finalmente, dizer: eu me amo!

2.8.06

Luz na escuridão

Mais um dia de vivência num espaço dito de educação. Esforço-me para não me perder dos propósitos estabelecidos pela minha alma. Um paradoxo: em meio ao desespero, espero. Na realidade lúgubre eu escolho vislumbrar o sol. É assim que uma alma planta uma semente. Num solo condenado, num clima social condenante, grãos de esperança são lançados sem nenhuma garantia de que vingarão. Mas esse é o trabalho de quem confia numa verdade poderosa: originalmente somos perfeitos, brilhantes, divinos!Uso palavras que não são as que eu gostaria de pronunciar, mas são as que conseguem fazer sentido dentro da realidade de seres que trazem uma marca de dor, de descaso, de indesejo(essa palavra existe?). Entretanto, enquanto falo, permaneço em contato com a intenção que tenho. Falo o que pode encontrar correspondente na linguagem de um contexto de abandono, de ausência de reverência ao humano e à vida como um todo. Acredito, porém, que o que toca é o meu desejo interno de acertar um alvo: o coração, a casa dos afetos, dos brinquedos, da alegria. Quero mostrar que não há obstáculos para a grandiosidade de uma alma dotada de todas as qualidades de um Pai infinitamente amoroso, misericordioso, perfeito.Se não acreditar nisso me retiro. Sem encanto não há como tocar um outro ser. No fim de tudo o mais importante não são as palavras, as classes gramaticais, as operações matemáticas e tantas coisas mais,mas as pontes que tudo isso faz para chegar até um terreno íngreme e transformá-lo num jardim, ainda que seja de uma só flor.Que bom que eu sei que a vida não é só o que se apresenta aos meus olhos! Só por isso eu encontro sentido em tudo o que faço e desacredito no que vejo, pra vislumbrar o invisível em tantos seres aparentemente condenados por um sistema que coloca todos os obstáculos possíveis para que um professor desista de exercer com dignidade o seu ofício; para que um professor não resista à canseira a que é submetido todos os dias; para que um professor não suporte o derespeito com que é tratado pelos que governam o nosso país, criando "projetos", "benefícios", como se prestassem um favor a seres inferiores. Seres que precisam ficar na ignorância para não terem consciência dos direitos que posuem, para não terem acesso a leis que não são cumpridas e continuem achando que o bolsa família e outros paliativos são bençãos recebidas .Um ser humano é muito! É dotado de capacidade infinita! Não há porta que não possa ser aberta pela força da vontade de um homem, porque um homem é uma alma, e uma alma é vasta, é forte, é luminosa, é divina! Não quero esquecer disso nem por um segundo. Eu sou uma alma que lida com outras almas. Tenho um deus interior que me guia e a minha principal função é despertar esses outros deuses adormecidos. Não há obstáculos para deuses!

1.8.06

Pra aliviar o coração


Hoje eu ouço um canto que não cessa, visualizo um sorriso de menino e lamento um destino que poderia ter sido melhor. Mas quem sou eu pra saber o que é melhor? Quem sou para entender os mistérios dos caminhos escolhidos por cada ser? Sou um mistério para os outros, tanto quanto eles o são para mim.
Alguém que fez parte da minha vida se foi, mudou de dimensão. Escolho escutar uma canção e guardá-lo assim : cantando. Penso que lembrá-lo fazendo o que mais amava fará com que os anjos se encantem, tanto quanto eu me encantei e corram para cuidar das suas feridas que a vida deu. Penso que a sua voz vai se espalhar pelo ar e acordar sonhos que só a música é capaz de despertar.
Quando alguém se vai o filme passa em nossa mente e, acredito, que esse próprio filme é utilizado como semente pra uma construção de uma nova vida. Lembrarei palavras doces, canções que me foram dedicadas, sorrisos, piadas e a voz de um cantor que muito sonhou em ganhar o mundo.
Como a vida continua , tudo pode ser revisto, refeito, reinventado, mesmo do outro lado, e eu oro pra que ele possa acordar e fazer brilhar a sua luz. Um dia eu pude ver o seu brilho e só quero lembrá-lo na luz, pois luz é o que verdadeiramente somos. No momento a tristeza toma o coração, mas vai passar, assim como a sua dor também vai.
-Deus, chegou aí um passarinho cantador, precisando de cuidados. Tenho certeza que em seus braços ele recuperará o canto e a vontade de viver.

30.7.06

Entrelinhas; entreluzes...

Há algo a ser dito e as palavras para tal expressão não foram construídas. A sutileza que ronda a realidade despertada é quase nada de matéria conhecida. Entretanto a força com que me pressiona a alma é tanta, que surpreende-me não gerar novos códigos capazes de materializá-la.
Vou ficar assim impedida de buscar o recurso da linguagem; vou fazer a ronda ao que sinto, protegê-lo do inimigo que pode destruí-lo na tentativa de dizê-lo. É da sua natureza não ser dito, correndo o risco de morrer, se confinado nas palavras.
Algo se amplia de tal forma que expande os instrumentos de percepção usados até agora. Vou embora, então, e fico nos espaços reservados ao que não se fala. Respiração, coração, olhares e sentimentos... Tudo é pouco pra o momento. Reinvento-me no éter. Alguma coisa recebe o sopro do universo. Não quero nem tentar dizer pra não perdê-la, pra ficar perto.

29.7.06

VERMELHO...


Vermelho, porque é vida, porque convida ao que é novo e belo. Vermelho porque inflama, porque traz chama ao desbotado tempo. Vermelho porque acorda, dá corda aos sonhos, faz despertar. Vermelho, porque tem cheiro, porque derrama o que está preso e desinflama a alma. Vermelho, porque a calma só vem depois que sangra, depois que irrompe, depois que chama à sedução.Vermelho porque tem tom, porque tem som e tem paixão.
Vermelho é o que recomendo pra sair do tédio. Vermelho em doses variáveis de acordo com o momento. Vermelho : um doce veneno pra o "mais ou menos"; um santo remédio pra sair do armário, pra se olhar no espelho, pra pintar os lábios e soltar a voz. Vermelho pra queimar, pra amar , pra viver. Vermelho pra se abrir pro mundo, pra dar sim à vida, pra quebrar padrão. Vermelho, mesmo sem razão pra "envermelhecer", mesmo sem saber, mesmo sem querer. Porque a vida arde e o coração tem pressa. Porque a cor que fica pode colorir o que se foi no vento e fazer nascer no velho, um novo momento cheio de força e energia como o vermelho...

27.7.06

Fora de mim: dentro de mim


ICorro e ninguém percebe. Algo em mim corre em busca de algo que nem eu mesma sei, mas quero. Promessa de um encontro entre mim e minha alma.Sinto que ela me chama impacientemente e fico a criar espaço para ouvir o seu chamado.
Estou com o coração aos saltos. Sou invadida por tremores de uma estrutura que está ruindo juntamente com o nascimento de uma luz: a minha luz.
Sigo a luz, caminhando externamente pelos mesmos caminhos , porém dou saltos sutis e infinitos, solto gritos, dou desmaios, morro e ninguém sabe...! Falam com um fantasma de mim sem se darem conta! Estou morta.Estou mais viva do que nunca, sou rodeada por seres encantados e a vida normal segue seu curso. Pareço igual. Pareço a mesma. Pareço normal. Pareço certeza. Não sou! O que eu pareço não comporta mais quem sou, por isso eu corro! A velocidade vai desintegrando essa aparência inadequada pra a loucura dessa busca.
Estou correndo. Não me procurem. Não estou para ninguém por enquanto. Só para mim mesma.

23.7.06

Lambendo os beiços

Comida boa que me alimentou a alma e continua a parir mais e mais alimentos dentro de mim. Depois de ouvir tamanha beleza meu coração fica se sentindo agasalhado por muito tempo. Quando o frio for mais desesperador tenho bastante lenha pra queimar e ficar olhando as figuras do fogo dançando ao som da voz da alma de Rubem Alves. É assim que estou me sentindo: atendida nas minhas necessidades básicas, como um bebê faminto que encontrou o "peito de Clotilde"( acho que foi esse o nome da professora do caso contado por ele) . É incrível o que um ser humano pode despertar num outro, principalmente se o terreno já estiver adubado. Há algum tempo que o adubo da poesia de Rubem Alves tem contribuído pra tornar o meu "jardim secreto" mais florido, mais bonito. Como uma criança eu vibrei com o "brinquedo" à minha frente; um brinquedo que, de forma leve e consistente confirmou em mim um caminho que escolhi seguir e o enfeitou com uma vivência rica e sensível da arte de ser gente. Minha criança interna aguçou todos os sentidos pra escutar a voz de um mestre conectado com o divino que há em si mesmo e, nas suas antropofágicas palavras, devorei-o deliciosamente.
Rubem Alves é o que as palavras não definem e, acho que por ele saber da incompletude da linguagem pra definir o que é sutil, vive brincando com ela para aproximá-la o máximo da fluidez dos sentimentos. Pra entendê-lo é preciso abrir a alma e o coração, pois só assim se poe fazer a leitura das entrelinhas, daquilo que mesmo sem nos darmos conta, nos transforma.
Eu aqui, simples mortal, tento, desajeitadamente, traduzir um sentimento de uma criança diante do seu tão desejado brinquedo; tento expressar o que é ter uma fome satisfeita com o alimento preferido. É muito mais que isso. Não sei dizer. Tô lambendo os beiços.

17.7.06

Dentro de mim

Portas fechadas. Guardo-me agora do que vem de fora. Nada me alcança. Olhos fechados, alma acordada pra tudo o que é meu. Preencho-me de singularidades como quem armazena alimentos pra uma longa temporada de seca, de escassez. Entretanto sei que tudo é imagem ilusória; tudo é passagem diante do salto que me lança ao meu destino. Mas por um desatino humano acredito que sofro, acredito que morro, que chegou o fim. Troco de casca e, enquanto não posso exibir uma pele mais diáfana, sinto-me esquisita, sem definições como uma adolescente. A receita é clara, simples e, aparentemente fácil: fechar os olhos, respirar, me entregar à mudança e deixar o grande mágico agir sem que eu interfira. Não sei quanto tempo levará. Não sei o que virá, mas com certeza será mais leve, será mais limpo. Menos uma casca, mais uma parte de uma verdade que se chama EU.

15.7.06

TOME, TOME, TOME!


Por excesso de bagagem, causando problemas de coluna e desvio de estrada, estou devolvendo umas tralhas que, por negligência, por paciência, impotência, insuficiência de consciência e outras congruências, andei pegando ao longo do caminho. Estou devolvendo o olhar triste, o coração pesado, o julgamento, os sonhos errados que se transformaram em pesadelos. Não quero também a bobice de aceitar tudo pra ser boazinha, a cara de santinha, as falas comedidas, as destrambelhadas... O que é demais é sobra, já dizia a minha mãe. Não quero mais as sobras, os restos, as doenças, os remédios, o tédio e o "tudo certo como dois e dois são cinco". Devolvo os rótulos, as definições que me amarram, os "afetos" que engessam, os melindres, os sutis venenos das conversas cotidianas. Estou entregando os produtos falsificados, os passados da validade, os de qualidade duvidável. Autenticidade é o antídoto pra tanta intoxicação acumulada na alma por todo esse tempo.
Por perceber que a vida é mais fácil pra quem carrega bagagens leves, pra quem leva o essencial, o que realmente é útil, estou me desfazendo de medos, preconceitos, verdadezinha metida a besta, frases feitas, alma desfeita, competições ferinas, neosaldinas e todas as "inas" para dores de cabeça. Não quero mais tanta cabeça, preciso de espaço para o coração. Estou tirando o excesso de razão, de arrogância, de complicação, pra ver se consigo ir mais longe, se consigo cansar menos e perder menos tempo pra arrumar bagulhos, pra trocar sapatos, pra afastar os ratos e baratas dos meus trapos.
Estou entregando o apego ao passageiro pra dar lugar ao que é eterno; tudo o que é áspero para viver o que é terno, tudo o que é amargo pra provar a doçura e a alegria de estar viva, de estar construindo-me sem tantos pesos, sem condições pré-estabelecidas. Deixo espaço para os imprevistos, o improvável, o fora de hora...Redireciono para todas as direções, reciclo em todas as dimensões e o meio ambiente agradece pela minha humilde contribuição.

14.7.06

Sábia Idade

Entrei no consultório e, confesso que, internamente, tive uma certa resistência à imagem daquele homem que nos atendia. A impressão preconceituosa, entretanto, se desfez ao primeiro contato. Aquele homem idoso tinha um sorriso doce, um falar simples e tranquilo e comunicava-se bem com três pessoas de idades bem diferentes, de maneira gentil, competente e segura. Enquanto ele indagava as nossas razões de estar ali e, imediatamente examinava com cuidado, atenção e carinho, eu pensava no quanto a nossa cultura desvalorizava o idoso.
Estava diante de um homem de 82 anos, exercendo a medicina com o que ela tem de melhor. Ele sabia que o contato afetuoso e cuidadoso do médico com o seu cliente era o primeiro remédio para a cura. Ali, diante dele, percebi que, muitas vezes, eu é que fui velha, achando-me incapaz de realizar determinada coisa, colocando dificuldades, obstáculos para atingir os meus objetivos. Velhos somos todos quando não percebemos o quanto temos a aprender com os nossos idosos, o quanto agimos de maneira desrespeitosa em relação àqueles que construíram a nossa história e continuam a atuar corajosamente, mesmo quando sofrem preconceitos de maneira sutil, como o que eu tive, e explícita, tendo os seus direitos negados como se fossem incapazes sociais. Pois é...
Esse médico nos atendeu de uma forma que nunca mais tinha visto em outros, a não ser no pediatra que acompanha meus filhos desde que nasceram. Fomos tratar de problemas na pele. Ele é dermatologista. Ele entende de pele, de gente, de toque, de ser humano.Ele tem 82 anos de sabedoria. Ao sairmos ele disse ter sido um prazer nos conhecer e que estaria a nossa disposição, caso fosse preciso, e não era da boca pra fora, mas de coração aberto, como um curador de verdade deve ser.

11.7.06

Sabendo quem sou

Por um triz não nos perdemos nas definições alheias. Por um triz não nos deixamos levar por movimentos que não são os nossos. A única defesa para isso é ficar bem perto de nós mesmos, saber quem somos verdadeiramente, pra não nos deixarmos levar por ventos e águas que não são as nossas . Pensei nisso quando me calei diante de um momento que poderia ter me levado pra um lugar que não seria o escolhido conscientemente por mim, mas por uma emoção desenfreada, movida por algo que não me pertencia. Estou escolhendo escolher sempre o que me serve e o que não me serve, o que é meu e o que é do outro e pra onde eu quero ser levada. Descobri a pouco tempo que deixar-se levar para onde não se quer ir para agradar não tem nada a ver com amor, mas com falta de amor próprio.
Interessante também, é perceber que tal atitude não significa que se está abandonando o outro à sua própria sorte, mas sim devolvendo o que lhe pertence para que ele, com o seu pacote de emoções nas mãos, possa ter a possibilidade de descobrir-se, sem os suportes oferecidos ilusoriamente, pela falta de auto estima de alguém. Não é fácil, mas necessário para se crescer. A casa balança, falta o chão, mas às vezes essa é a única forma de fazer alguém voar. Sinto que estou voando, estou desamarrando a alma, estou libertando sonhos. É um processo sutil, apenas eu percebo, mas sei que irá repercutir em todos os aspectos da minha vida. A principal razão para isso é o fato de hoje estar sabendo mais quem sou, o que quero, o que não aceito mais de forma alguma.
Contudo, caminho com cuidado nos caminhos de parceria, pois em todo processo é imprescindível que haja o amor, para que não nos tornemos ásperos, egoístas e insensíveis aos processos alheios. O amor tem que ser o ponto de partida, a estrada e o ponto de chegada, e nessa caminhada nós nunca estamos sozinhos. Muitas vezes, é o outro o catalisador, o guia, o mestre. Saber quem sou me dá também a dimensão do que o outro é, e de que eu e o outro somos um.

9.7.06

MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS

Há uma parte de nós, mulheres, que permanece forte e saudável, conectada com a sua verdadeira essência e propósito de vida. É essa parte que nos sinaliza quando ando algo está nos violentando, nos distanciando do que somos verdadeiramente. Essa verdadeira face é a que nos faz olhar o espelho e dizer: basta! chega! É essa parte que nos faz arrumar as malas, bater a porta e ir embora pra sempre do que nos faz infeliz, ou ficar, mudar as coisas de lugar, enfeitar a casa com flores, colocar uma música alegre e dançar...
Essa mulher íntegra, saudável, forte é a "Mulher Selvagem" de quem nos fala Clarissa Pinkola Estés no seu maravilhoso livro MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS. Um livro que toda mulher deveria ler para se conhecer melhor e todo homem deveria ler para conhecer o universo feminino, inclusive o seu próprio. "Através da interpretação de 19 lendas e histórias antigas..., a autora identifica o arquétipo da Mulher Selvagem ou a essência da alma feminina, sua psique instintiva mais profunda. E propõe o resgate desse passado longínquo, como forma de atingir a verdadeira libertação." A mulher que se permitir essa viagem, nunca mais será a mesma, pois o livro tem um efeito terapêutico profundo, que nos faz identificar as nossas partes feridas e buscar a cura. Posso dizer que foi e está sendo o melhor processo de cura da alma que vivenciei, tamanho é o seu poder.
Numa sociedade onde o poder feminino tem sido tratado de forma tão equivocada e aberrativa, se faz necessário um resgate do verdadeiro poder da mulher, que não está vinculado ao culto excessivo ao corpo, a seios siliconizados e sexo desvinculado de sentimento. Clarissa nos desperta para a nossa proteção natural, para a nossa força natural, para o nosso ser íntegro e puro: "Tendo a Mulher Selvagem como aliada, como líder, modelo, mestra, passamos a ver, não com dois olhos, mas com a intuição, que dispõe de muitos olhos. Quando afirmamos a intuição, somos, portanto, como a noite estrelada: fitamos o mundo com milhares de olhos."Amém.

8.7.06

Novo Olhar

O Campo Grande, ontem, estava vasto, grande como nunca. Foi assim que percebi quando resolvi por alguns instantes esquecer do tempo, que tem sido um algoz para mim, e simplesmente contemplar o já conhecido de um outro jeito. As flores se impunham com tamanha força que pude abandonar pressa, afazeres, racionalismos, para simplesmente perceber que tenho utilizado pouco os meus olhos de ver e os meus ouvidos de ouvir. Pássaros pareciam seres de outro planeta. Um planeta onde as pessoas compartilham a alegria da existência sem que precisem de motivos externos para isso. Um planeta onde seres estabelecem o seu tempo de acordo com as prioridades essenciais.
Perguntei-me o que tenho feito que não me disponho a usufruir da beleza que me cerca. Uma das respostas que me dei foi: a contaminação consumista nos faz acreditar que o que é bom e belo está longe de nós, precisa que nos matemos de trabalhar para que tenhamos dinheiro para alcançar os "paraísos" vendidos nas imagens de propagandas. Poi é...Ontem eu pude sentir o paraíso dentro de mim, e, dessa forma pude ter um novo olhar sobre todas as coisas dentro e fora. O tempo externo foi pouco, mas o tempo interior foi o suficiente para que firmasse um compromisso comigo mesma, com a minha alma, de não esquecer de que o bom, o bem e o belo está presente o tempo todo ao meu redor. A questão é pra onde eu direciono o meu olhar e o meu coração. Só posso expandir em minha vida aquilo onde coloco a minha atenção. Quero estar atenta a todos os vastos campos do mundo, inclusive os dos sonhos. Quero redescobrir lugares dentro e fora de mim, reconhecer a minha cidade com o que ela tem de melhor a fim de contribuir com o ambiente, tendo pensamentos e sentimentos mais leves.
O Campo Grande ontem foi palco das minhas reflexões. Várias pessoas dividiam comigo esse espaço. Muitos olhares vagos, muitos olhares firmes. Gente alegre, gente triste, crianças correndo, pessoas fotografando a beleza para poder vê-la de uma outra forma, em um outro momento. Comi pamonhas com meus filhos em frente a um senhor solitário de olhar perdido e um outro mais jovem que parecia viajar em si mesmo. Apenas a minha interpretação do que nem de longe posso desvendar. Ouvi uma criança falar da sua dificuldade de soltar-se e correr pelo grande campo da vida e fiz planos de aprender a correr para ajudá-lo a descobrir do que são capazes as nossas pernas e do que pode uma alma alcançar quando desperta. Todas as idades, todas as cores...Alguém cantando, grupos, violões, namorados...Do meu lado um moço reservado procurando um lugar escondido pra comer pamonha. Não havia. Tudo aberto, escancarado, povoado. Todos protegidos nos seus mundos internos , traduzidos pelos olhares de quem passa,;descobertos por meu novo olhar.

4.7.06

Porta Aberta

"Ah, não retires de mim a tua mão, eu me prometo que talvez até o fim deste relato impossível talvez eu entenda, oh talvez pelo caminho do inferno eu chegue a encontrar o que nós precisamos- mas não retires tua mão, mesmo que saiba que encontrar tem que ser pelo caminho daquilo que somos, se eu conseguir não me afundar definitivamente naquilo que somos."( Clarice Lispector)
Bem vindos a uma porta entreaberta, mas leve como uma pluma, fácil de empurrar e entrar, ou até mesmo cair pela ilusão de um peso que não existe a não ser em você mesmo. Não pense porém, que por não estar trancada será fácil descobrir o que se guarda atrás da porta.
A casa é grande...vasta...misteriosa...Não por desejo pessoal, mas porque não há como fugir da natureza humana: profunda,subjetiva,livre e prenhe de segredos que se guardam por si mesmos e só se revelam com a real descoberta da verdade. Qual verdade? A que desvenda a inexistência de verdades absolutas, de caminhos retos.
Entrar é estar disposto a caminhar em labirintos com a serenidade de quem possui mapas e bússolas. Por que um ser humano nunca está perdido, mesmo quando pensa que está. Tem sempre uma mão a lhe guiar. Pode ser a de um anjo, a de um Deus ou a sua própria mão segura e firme que ele nem desconfia que possui.