Existem pessoas que nasceram com uma habilidade fantástica para manejar as palavras, de uma forma que, na busca de traduzirem-se a si mesmas, atingem em cheio a alma da gente. Afinal, somos todos uma linda unidade, ainda que pensemos que não. Lá no nosso cofre-coração guardamos os mesmos tesouros, as mesmas vontades tão humanas e divinas de dar e receber amor , de ter um colo bom pra recostar quando achamos que o mundo não nos reconheceu como queríamos, e também a doce vontade de ter um par para bailar conosco as nossas alegrias.
26.9.06
Pessoas que nos traduzem- Elisa Lucinda
Existem pessoas que nasceram com uma habilidade fantástica para manejar as palavras, de uma forma que, na busca de traduzirem-se a si mesmas, atingem em cheio a alma da gente. Afinal, somos todos uma linda unidade, ainda que pensemos que não. Lá no nosso cofre-coração guardamos os mesmos tesouros, as mesmas vontades tão humanas e divinas de dar e receber amor , de ter um colo bom pra recostar quando achamos que o mundo não nos reconheceu como queríamos, e também a doce vontade de ter um par para bailar conosco as nossas alegrias.
21.9.06
JANELAS (aos amigos virtuais com carinho)
15.9.06
Interseção
Graças a ti cheguei aqui aonde estou.
Olhei-te de perto e eis que me enxergo nos teus olhos vesgos,
na tua alma torta de paixões perdidas,
de amores achados em meio a armadilhas.
Somos todos só um
e vivemos a exaltar as nossas diferenças.
E insistimos em dar valor às nossas doenças sociais.
Mas só sou porque tu és.
És o que sou e nem sabes.
Sou o que és e nem sei.
Agora que encontro os teus reflexos em meus espelhos,
admito entre surpresa e consolada,
que a humanidade nos une além da morte.
Graças a mim te reconheces único.
Graças a todos nós que levantamos a bandeira da individualidade.
Frágil individualidade que pra nada serve quando a saudade invade e nos quebra em mil pedaços de escuridão.
Desde que me enxerguei nos cacos escuros dos teus espelhos meus
vejo pontes que atravessam as mais duras barreiras dos nossos discursos preparados pra o ataque.
Quando batem os atabaques dançamos juntos as nossas alegrias mais íntimas
por termos sobrevivido às nossas guerras diárias.
E a noite, quando os nossos corpos jogam-se na cama, o nosso suspiro de alívio é ouvido no universo inteiro.
Todos suspiramos juntos o mesmo suspiro e a Terra se enche de novas forças.
Ao amanhecer várias pernas caminham em nossas pernas.
O meu andar impulsiona o teu.
O teu andar inspira os meus caminhos.
Graças a ti meus olhos sabem que não choram sozinhos.
A minha dor é salgada à minha língua, tanto quanto à tua.
Mas quando a mais profunda alegria brota no meu peito, a minha liberdade te liberta e o sorriso desponta em tua face sem que saibas o porquê.
Descobri que o fio que nos une é eterno, infinito.
Que gritamos o mesmo grito de socorro ao cosmos.
Descobri que somos parte de um só coração
E que a humanidade é a nossa interseção.
10.9.06
Tome, tome, tome!
Por perceber que a vida é mais fácil pra quem carrega bagagens leves, pra quem leva o essencial, o que realmente é útil, estou me desfazendo de medos, preconceitos, verdadezinha metida a besta, frases feitas, alma desfeita, competições ferinas, neosaldinas e todas as "inas" para dores de cabeça. Não quero mais tanta cabeça, preciso de espaço para o coração. Estou tirando o excesso de razão, de arrogância, de complicação, pra ver se consigo ir mais longe, se consigo cansar menos e perder menos tempo pra arrumar bagulhos, pra trocar sapatos, pra afastar os ratos e baratas dos meus trapos.
Estou entregando o apego ao passageiro pra dar lugar ao que é eterno; tudo o que é áspero para viver o que é terno, tudo o que é amargo pra provar a doçura e a alegria de estar viva, de estar construindo-me sem tantos pesos, sem condições pré-estabelecidas. Deixo espaço para os imprevistos, o improvável, o fora de hora...Redireciono para todas as direções, reciclo em todas as dimensões e o meio ambiente agradece pela minha humilde contribuição.
6.9.06
A nossa criança
Somos o somatório das nossas várias experiências, dos vários tempos vividos, das dores e alegrias sentidas ao longo do caminho. Em alguns momentos fomos submetidos a uma emoção tão forte que nos fez chorar, ainda que só por dentro. E porque temos que seguir, tocamos a vida sem que deixemos evidente aquela dor. Entretanto ela existe. Aquele "eu" machucado está lá num outro tempo paralelo, precisando de ajuda, de carinho, de um resgate pra que possamos caminhar libertos das amarras de um sentimento que nos limitou em muitos aspectos da nossa vida, sem que tivéssemos consciência disso.
Em muitos casos essas vivências se deram na infância. Nessa fase em que nos construímos como pessoas, em que construímos os nossos afetos, valores, conceitos...Essa criança sem defesa ficou lá, aprisionada num dado momento, e esse adulto que hoje somos, carrega o peso de algo não resolvido e não se dá conta. Acredito que precisamos nos permitir estar em contato com a nossa criança, para que possamos, mesmo sem saber, cuidar das nossas feridas.
Brincar é a saída. Buscar atividades motoras e artísticas que provocam prazer, que produzem endorfina, que abrem espaços dentro e fora de nós. É essa criança a responsável pelo nosso humor, por nossa vontade de viver, de crescer, de alcançar as estrelas, mesmo que sejam as do nosso céu particular.
Salvemos as nossas crianças internas, para que possamos salvar as outras crianças que estão sendo obrigadas a crescer antes da hora para atender a uma sociedade doente; para atender ao nosso pedido de socorro por sermos incompetentes para lidar com elas. A nossa parte criança é a nossa parte saudável, a parte que escolhe ser feliz, apesar de tudo, mas para isso é preciso cuidar dos nossos "dodóis". Vamos lá naquele lugar onde deixamos a nossa criança machucada. Vamos cuidar dela e dizer que tudo já passou, que estamos em condições de apoiá-la para que possa seguir em paz. A nossa criança será o nosso mestre e nos abrirá as portas da alegria e da paz.