22.7.10

Tesouros da Alma


Que da vida quase nada se leva
Já é sabido.
Mas o que de verdade se carrega
É o sentido
Aqui, lá, em qualquer lugar...
Porque a alma se carrega ao longo da existência
E registra toda luz alcançada na vida.
Por isso os pequenos gestos se eternizam,
Quando carregados de cuidados e ternura.
Dura uma eternidade a palavra pura,
A doçura da voz,
Um olhar de aconchego...
Na caixa de jóias da alma
Mora a calma de um terno sorriso;
O abraço, o silêncio
Naquela hora exata.
Mora nessa caixa
O cotidiano cuidado
Livre de exigências,
Mas em decorrência do amor;
Do aceitar sem condições
O que o outro é
Sem exigir qualquer condição
Pra diferente ser.

Mora na alma
A profundidade da compreensão
Que da vida se leva as conquistas imateriais;
Que cada ato do outro que machuca
È o esforço desse outro em compreender-se na vida
De compreender-se em si mesmo.
São várias setas lançadas no escuro
Pra atingir o alvo
Que é o próprio Eu.
Que da vida nada se leva
Já é sabido
Possamos, portanto largar os nossos mortos
E nos comprometermos com o que em nós
Sempre será vivo.

11.7.10

Estação de mim



Chego agora assim como quem sou.
Depois de longo tempo presa a ilusões de que devia ser um pouco menos,
Um pouco mais, um pouco menor,
Um pouco maior...
Chego agora com o meu peso, meu tamanho,
Minha largura
Minha estreiteza...
Mas com certeza estou maior
Agora que caibo em mim mesma.
E aceito essa certeza de que não posso ser mais ninguém
Além de eu mesma.
E olhando-me assim de perto
Vendo minhas inundações e meus desertos
Lamento ás vezes ter andado tanto pra lugar nenhum
Já que os caminhos não eram meus
Mas me aplaudo por chegar
A tempo de caminhar o meu caminho.
Sei que vou um pouco mais cansada do que poderia
Tenho menos estrada (?)...
Talvez sim, talvez não...
Mas tenho as minhas razões pra continuar.
Os gritos dos outros já não me assustam mais.
As assombrações sumiram do tanto que já rezei pela vida a fora.
As censuras transbordaram e escorreram nesse tempo todo em que tentei ser agradável, aceitável, adequada...
Chego agora assim como quem sou, e olho com desdém pra quem me estranha.
Não desconfia dessa grande descoberta que tardiamente fiz.
De que não preciso provar nada,
Não preciso estar certa,
Não preciso agradar a ninguém.
Só e apenas existir como sou.
Respiro agora o meu ar.
Converso com Deus sem hora marcada e sem pressa.
Cheguei ao meu porto e agora parto de mim pro mundo.
O meu profundo subiu à superfície
E já não existe a possibilidade de não ser.
Sou tudo o que sou e o que tenho.
Agora posso do meu jeito
Contemplar a eternidade.