26.6.10

Cerimoniosa


Pedirei licença ao chegar mais perto
Tocarei de leve
Pra que seja terno o meu tocar.
Falarei mais baixo
Lenta e pausadamente
Pra que me faça entender
E possa te escutar.
Terei reservas, sem frescuras.
Espaços livres pra manter os laços
Laços leves pra criar espaços.
Chegarei de leve
Sairei em breve
Cerimoniosa
Pra manter a prosa
Pra manter a vida harmoniosa
Com encantos e cantos de cada um
Pra que sejamos sempre novos
Desejosos um do outro
Com nossos mistérios
Com nossos segredos
Percebidos pela sutileza dos olhos
E dos gestos...
Dessa forma estaremos, cerimoniosamente,
sempre perto.

15.6.10

Perdida



Você não sabe o que rola num coração.

Não sabe não...

Será que por isso merece perdão?

De onde vêm os sonhos, você sabe?

De muito longe...

Um dia era a própria vida da gente,

Mas depois, com o tempo,

E com as dores,

Os empurramos pra bem distante de nós.

Amarramos o coração sem querer

E quando percebemos

Precisamos de um grande esforço

Pra fazê-lo renascer.

Não lhe cobro a dor do meu esforço

Nem a dor de percebê-lo em vão.

Você não notou que seu coração batia mais forte?

Nenhuma energia a mais percebida nos seus dias?

Trouxe os meus sonhos de longe...

Acalmei meu coração, cantei uma canção de ninar e ele dormiu tranqüilo...

Ao seu lado... Dormi tranqüila.

Passei a ouvir mais batidas no meu peito...

Meu coração com defeito? Seria?

Não... Não cobro você notar.

Não cobro nada...

Não há palavras nem preço pra traduzir o caminho que fiz para encontrá-lo.

Não cobro nada...

Só que me deixe chorar.

8.6.10

CALA A BOCA JÁ MORREU!


Das minhas dores sei eu!

Cala boca já morreu faz tempo!

Quem não gosta da língua que se dane!

Da palavra tenho fome,

Me exercito, me divirto,

Procurando nomes

Pra o que não conheço.

Reconheço os silêncios de quem não acha os verbos;

São diferentes daqueles que substituem palavras.

A língua bate ou acalma e por dentro sangra.

É através dela que me domo, me defino, me angustio

Quando tudo some.

Às vezes não há nomes que caibam na sensação que tenho

Ordenho a linguagem pra ver se escorre o que se esconde

E se mostra em meu sentir sem nome.

As minhas dores se acalmam quando lhes acolho em definições

Sentem-se batizadas, protegidas e aceitas.

A minha boca se exercita no que digo

E sigo torneando-a de sinônimos e apelidos que invento.

Cala boca se perdeu no vento.

Na palavra tenho o antídoto pra o veneno

Do ignorante silêncio

E da palavra morta.

Quem manda na minha boca sou eu!

Quem não gosta do que digo

Que bata em outra porta.