10.1.07

À flor da pele

Derretida. Assim que estou. Desmanchando-me e misturando-me com as coisas que me cercam. Desordenadamente, vou espalhando-me e perdendo as fronteiras que me dão segurança. Ultrapasso-me e temo perder-me e não mais voltar. Sou sapatos, sou rastros, sou caixas, sacolas, livros e roupas espalhadas pelo espaço. Nada faço pra esconder esse emaranhado que agora sou. Sinto as dores das coisas: a dor da porta batida, do livro jogado de qualquer jeito, dos talheres... Os barulhos falam e doem. Toco nas coisas quase sem tocar para que não se assustem; para que eu não me assuste. Tudo poderia ser mais doce e silencioso. Mas não é. Espero forças pra erguer-me num movimento mais normal; um movimento de gente que segue a rotina cegamente, sem perguntar o porquê de ser assim. Botaram porquês demais em mim. Fiquei perdida nas perguntas que fiz e nas respostas que busquei até hoje. Quero calar-me e viver apenas. Preciso urgentemente descobrir o que é viver pra mim. Andei desvivendo a minha vida. Quero-a de volta, mas agora sinto-me fraca pra buscá-la. O desafio agora é transformar esse cenário de transição em algo mais definitivo. Preciso definir para definir-me. Preciso me inserir num tempo real pra não me perder em labirintos meus.
Agora é noite. Dormir é sempre uma saída, um consolo, uma pequena morte. É sempre uma esperança o acordar, o renascer do dia, o meu renascer. Tenho esperança de que amanhã o sol há de nascer dentro de mim.

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Agradeço a todos que me visitaram e que, por força das circunstâncias, não pude ainda retribuir a visita. Aos poucos aparecerei em "suas casas" e, com imenso prazer, retribuirei a visita. Muita paz nos seus corações.