14.7.06

Sábia Idade

Entrei no consultório e, confesso que, internamente, tive uma certa resistência à imagem daquele homem que nos atendia. A impressão preconceituosa, entretanto, se desfez ao primeiro contato. Aquele homem idoso tinha um sorriso doce, um falar simples e tranquilo e comunicava-se bem com três pessoas de idades bem diferentes, de maneira gentil, competente e segura. Enquanto ele indagava as nossas razões de estar ali e, imediatamente examinava com cuidado, atenção e carinho, eu pensava no quanto a nossa cultura desvalorizava o idoso.
Estava diante de um homem de 82 anos, exercendo a medicina com o que ela tem de melhor. Ele sabia que o contato afetuoso e cuidadoso do médico com o seu cliente era o primeiro remédio para a cura. Ali, diante dele, percebi que, muitas vezes, eu é que fui velha, achando-me incapaz de realizar determinada coisa, colocando dificuldades, obstáculos para atingir os meus objetivos. Velhos somos todos quando não percebemos o quanto temos a aprender com os nossos idosos, o quanto agimos de maneira desrespeitosa em relação àqueles que construíram a nossa história e continuam a atuar corajosamente, mesmo quando sofrem preconceitos de maneira sutil, como o que eu tive, e explícita, tendo os seus direitos negados como se fossem incapazes sociais. Pois é...
Esse médico nos atendeu de uma forma que nunca mais tinha visto em outros, a não ser no pediatra que acompanha meus filhos desde que nasceram. Fomos tratar de problemas na pele. Ele é dermatologista. Ele entende de pele, de gente, de toque, de ser humano.Ele tem 82 anos de sabedoria. Ao sairmos ele disse ter sido um prazer nos conhecer e que estaria a nossa disposição, caso fosse preciso, e não era da boca pra fora, mas de coração aberto, como um curador de verdade deve ser.

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