23.7.06

Lambendo os beiços

Comida boa que me alimentou a alma e continua a parir mais e mais alimentos dentro de mim. Depois de ouvir tamanha beleza meu coração fica se sentindo agasalhado por muito tempo. Quando o frio for mais desesperador tenho bastante lenha pra queimar e ficar olhando as figuras do fogo dançando ao som da voz da alma de Rubem Alves. É assim que estou me sentindo: atendida nas minhas necessidades básicas, como um bebê faminto que encontrou o "peito de Clotilde"( acho que foi esse o nome da professora do caso contado por ele) . É incrível o que um ser humano pode despertar num outro, principalmente se o terreno já estiver adubado. Há algum tempo que o adubo da poesia de Rubem Alves tem contribuído pra tornar o meu "jardim secreto" mais florido, mais bonito. Como uma criança eu vibrei com o "brinquedo" à minha frente; um brinquedo que, de forma leve e consistente confirmou em mim um caminho que escolhi seguir e o enfeitou com uma vivência rica e sensível da arte de ser gente. Minha criança interna aguçou todos os sentidos pra escutar a voz de um mestre conectado com o divino que há em si mesmo e, nas suas antropofágicas palavras, devorei-o deliciosamente.
Rubem Alves é o que as palavras não definem e, acho que por ele saber da incompletude da linguagem pra definir o que é sutil, vive brincando com ela para aproximá-la o máximo da fluidez dos sentimentos. Pra entendê-lo é preciso abrir a alma e o coração, pois só assim se poe fazer a leitura das entrelinhas, daquilo que mesmo sem nos darmos conta, nos transforma.
Eu aqui, simples mortal, tento, desajeitadamente, traduzir um sentimento de uma criança diante do seu tão desejado brinquedo; tento expressar o que é ter uma fome satisfeita com o alimento preferido. É muito mais que isso. Não sei dizer. Tô lambendo os beiços.

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