8.7.06

Novo Olhar

O Campo Grande, ontem, estava vasto, grande como nunca. Foi assim que percebi quando resolvi por alguns instantes esquecer do tempo, que tem sido um algoz para mim, e simplesmente contemplar o já conhecido de um outro jeito. As flores se impunham com tamanha força que pude abandonar pressa, afazeres, racionalismos, para simplesmente perceber que tenho utilizado pouco os meus olhos de ver e os meus ouvidos de ouvir. Pássaros pareciam seres de outro planeta. Um planeta onde as pessoas compartilham a alegria da existência sem que precisem de motivos externos para isso. Um planeta onde seres estabelecem o seu tempo de acordo com as prioridades essenciais.
Perguntei-me o que tenho feito que não me disponho a usufruir da beleza que me cerca. Uma das respostas que me dei foi: a contaminação consumista nos faz acreditar que o que é bom e belo está longe de nós, precisa que nos matemos de trabalhar para que tenhamos dinheiro para alcançar os "paraísos" vendidos nas imagens de propagandas. Poi é...Ontem eu pude sentir o paraíso dentro de mim, e, dessa forma pude ter um novo olhar sobre todas as coisas dentro e fora. O tempo externo foi pouco, mas o tempo interior foi o suficiente para que firmasse um compromisso comigo mesma, com a minha alma, de não esquecer de que o bom, o bem e o belo está presente o tempo todo ao meu redor. A questão é pra onde eu direciono o meu olhar e o meu coração. Só posso expandir em minha vida aquilo onde coloco a minha atenção. Quero estar atenta a todos os vastos campos do mundo, inclusive os dos sonhos. Quero redescobrir lugares dentro e fora de mim, reconhecer a minha cidade com o que ela tem de melhor a fim de contribuir com o ambiente, tendo pensamentos e sentimentos mais leves.
O Campo Grande ontem foi palco das minhas reflexões. Várias pessoas dividiam comigo esse espaço. Muitos olhares vagos, muitos olhares firmes. Gente alegre, gente triste, crianças correndo, pessoas fotografando a beleza para poder vê-la de uma outra forma, em um outro momento. Comi pamonhas com meus filhos em frente a um senhor solitário de olhar perdido e um outro mais jovem que parecia viajar em si mesmo. Apenas a minha interpretação do que nem de longe posso desvendar. Ouvi uma criança falar da sua dificuldade de soltar-se e correr pelo grande campo da vida e fiz planos de aprender a correr para ajudá-lo a descobrir do que são capazes as nossas pernas e do que pode uma alma alcançar quando desperta. Todas as idades, todas as cores...Alguém cantando, grupos, violões, namorados...Do meu lado um moço reservado procurando um lugar escondido pra comer pamonha. Não havia. Tudo aberto, escancarado, povoado. Todos protegidos nos seus mundos internos , traduzidos pelos olhares de quem passa,;descobertos por meu novo olhar.

Um comentário:

Cristiano Contreiras disse...

É tão bom apenas contemplar - observar o cotidiano que 'vibra' e perdura diante de nosso puro observar.

Observamos o quanto as pequenas coisas; o simples caminhar da vida e desenrolar do dia-dia nos fornece boas sensações, de pura reflexão.

bjos