13.8.06

SOBRE MEU PAI...

Meu pai era um poeta, um homem que tinha luz nas palavras. Quando falava, encantava. Era um cantor com uma voz que tocava a nossa alma. Era um protetor, um cuidador raro, de percepção aguçada pra ver nos olhos de qualquer um de nós algum desconforto, alguma nuvem de tristeza.
Era um provedor, principalmente de afeto. Era um sonhador, mas caminhava com firmeza no chão pra buscar o pão de cada dia. Não tem fim pra mim o rol da suas qualidades. Deixou-me a herança da poesia, da música, do encanto e da esperança. Deixou-me a persistência na bondade, na honestidade e no desejo de querer saber sempre mais de tudo, principalmente da alma humana. Acho que ele continua sendo tudo isso com muito mais intensidade onde ele está hoje. Sua herança é o meu norte, é a minha sorte, é o meu alimento. Minha saudade não tem fim, apesar de ter certeza de que,de onde ele estiver, olha por mim. Eu trago sempre os seus olhos nos meus pra enxergar a vida com a mesma riqueza com que ele enxergou. Segue uma das suas poesias como uma singela homenagem:

...É NADA

Rasga o véu
desnuda a alma,
pula fora da clausura!
Mergulha em ti,
que no fundo
encontrarás
o teu mundo...
te encontrarás,
criatura!
Depois,
volta à superfície,
e verás quanta imundície
tu confundiste com ouro...
rasga o céu,
liberta a alma.
deixa-a livre,
solta, pura,
que, voando a grande altura,
devassará o universo
e mostrará o reverso
desse teu falso tesouro...
Aí, então, tu verás
- na imersão,
na escalada-
que no cosmo, na amplidão,
só essência,
o resto...é nada!

Cristovão Souza de Carvalho

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