10.3.10

Tempestade


Ah, se eu te disser o que eu faço
Com esses laços que envolvem
O teu e o meu ser
Você não agüentaria ver
Tanta água rolando rio abaixo
Tanta gruta em que me encaixo
Misturando à natureza o que se vai com a correnteza
E fica banhando a pele
A cada vez que passa.
É de achar graça e de sofrer
Não viver a tempestade que invade
Balança o tempo e revira sentimento
De embrulhar o estômago.
Você não pode ver
O que não posso lhe mostrar;
Não pode experimentar
Ser arrastado pelo vento,
Dançar na chuva da vida até o sol poder brilhar.
Desato os laços então
Pra lhe deixar seguro
E sigo no escuro
De uma noite sem lua
Lançando-me à tempestade da vida
Com a alma nua.

7.3.10

Resgate


Tem uma moça na janela...

Largou roupa e panelas pra olhar a vida.

Ficou atrevida de repente e quis virar gente!

Olhou outros rostos sorrindo e quis mostrar os dentes.

Tem uma moça na cozinha...

Falando sozinha

Provando temperos

Sentindo outros cheiros que nunca sentia.

Sonhou com um jantar à luz de velas

E a sua panela ficou mais bonita

Com o sonho que teve.

Tem uma moça assanhada

Sorrindo por nada

Com a boca pintada

Diante do espelho.

Deixou lá na rua um homem vermelho

Ao lhe olhar nos olhos e ficar nua...

Tem uma mulher em chamas

Deitada na cama

Com os lábios vermelhos.

Se olhou no espelho e se apaixonou

E numa fúria profunda

Se possuiu.