18.6.07

As Últimas Horas


Parece que tudo se esvai,
Mas não para o nada,
Não para sempre.
Uma pequena morte se instala
E, com o mesmo desespero de quem “para sempre” parte,
Vou-me de mim, desesperada e triste,
Por não poder ficar,
Por não conseguir fixar-me
Numa vida única,
Num repetido viver.
Mas quando vou, só eu percebo-me partindo.
Para todos eu estou, eu fico...
E, no entanto,
Debato-me na agonia das últimas horas
Que me prendem ao que,
por total impossibilidade de permanecer,
eu abandono.
E assim, em traumáticas despedidas,
Vou-me distanciando de papéis, idéias pré-concebidas, sentimentos equivocados,
Vidas e vidas que vivi...
E, nessa angústia,
Parece que tudo se vai,
Mas eu renasço e vou reconhecendo
A eternidade que escondo,
E vou me confrontando com a parte permanente de tudo,
Que na verdade é a mais flexível, maleável e bela.
É a parte que estrutura e que restaura,
Que modela e desmonta e funde,
É a parte que desvia pelas linhas retas
É a parte que por linhas tortas me conduz.
As últimas horas, como as primeiras, sempre são envolvidas pela luz.

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