17.11.06

Voz da Alma


Às vezes eu chego a mim com tanta força que quase me rasgo o peito. Quando a voz silenciosa me alcança ela lança flechas até me atingir, me derrubar pra passar por cima de mim e falar. Eu sou o meu maior obstáculo. E a voz sabe. Sabe que precisa usar de uma força descomunal para lhe dar vez, senão ela perde todo o seu discurso, que é o sentido da vida, a razão de estar aqui. Sou de uma crueldade sem fim quando permito que essa densidade impeça a sutileza de expressar-se. Quando sucumbo, enfim, sinto depois um alívio. A voz diz o que quer e voa. Vai buscar mais elementos pra cantar a vida. Sem ela eu nada sou. O automatimo e a rotina tomariam conta de mim até me transformar num robô disfarçado de gente. Ontem fui cruel com a voz e perdi a poesia de um momento único. Ela se vinga de mim não deixando pistas, resquícios dos seus versos. Essa voz é o meu guia, o meu bálsamo, o meu porquê de suportar-me tão comum em momentos destituídos de qualquer encantamento. Ela é o protesto e o encanto. É quem destrói bravamente o mal feito, e, cheia de esperança vai recolocando as pedras da minha caótica construção.

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